Afreudite

Fui lá há dois anos, com um namorado, claro. O conceito chama por isso e à nossa volta só existiam casais. Crucifiquei o ex-​namorado, (claro!) de me trazer a um local tão estereotipado conhecendo-​me ele como conhecia (obviamente que não). Mas resolvi abrir-​me a experiências novas, relaxar num ambiente que sendo pensado para casais e sua intimidade oferece um espaço apertado, com mesas umas em cima das outras em que os cotovelos mal me cabiam na mesa. O lusco-​fusco por si só e todas as velas não servem a meu ver para criar um ambiente intimista apenas para esconder a comida que não foi mesmo nada de especial. Lembro-​me de um arroz, rebentos de bambu, brócolos e manga, sesamo e gengibre exagerado, mas nada tinha ligação com nada e não despertou os sentidos que prometia. O prato do meu companheiro tinha umas bolas de pimentas sobre o prato. Lembro-​me que nos rimos do pouco esforço que os afrodisíacos por si como o gengibre e a pimenta tinham causado ao cozinheiro. O meu companheiro gostou no geral mas para mim a sedução rima com inteligência e mistério e aqui faltaram. Não gostei mesmo do facto de ficar numa mesa de passagem próxima da seguinte onde conseguia ouvir a conversa dos outros e nem a decoração de estátuas e clichés amorosos me distraiu disto. Não seria tão crítica se a paixão não tivesse inflacionado desnecessariamente os preços, se o fez foi a contar com toda a experiência gastronómica e de ambiente e no geral falhou. Não regressarei. Nem com este namorado nem com outro.

Pelo conceito que este restaurante promete… tive imensa vontade de o experimentar. Fui lá como se pretende, com o meu namorado e deparamo-​nos com um ambiente bem romântico e pensado ao detalhe para que a noite seja bem acompanhada de sedução. Todos os sabores, cheiros e decoração foram projectados ao pormenor para que mesmo os casais menos românticos (como o meu caso) se derretam como manteiga e saiam dali para uma noite tórrida de amor. Aconselho o pato com molho de frutos silvestres e lembro-​me que havia uma sangria também de frutos silvestres, que era muito boa.

Para quem, como eu, acredita no poder da sensualidade, este restaurante tem o conceito perfeito. É recolhido e escondido, distante da confusão. Quando lá entrei, o ambiente era íntimo, a meia-​luz, velas nas mesas. E logo que chegou a carta… começaram os sentidos a apurar: receitas afrodisíacas, mel, marisco, pratos confeccionados com álcool, picantes e outros condimentos… Tudo com o propósito de trazer a um jantar um pouco do poder da Deusa do amor. É o sítio perfeito para ir com a cara-​metade. Aliás, no meu entender, é a única situação que faz sentido. Os próprios empregados falam em tons calmos e monocórdicos (e tiram todas as dúvidas sobre os pratos). No final da refeição, recebe-​se uma lembrança em papel, com uma frase. Não vou revelar a minha, terão de ir lá buscar a vossa! Partilhem-​na antes com quem for convosco ;)