Espingardaria Central – A.Montez

A placa à entrada — espingardas, revólveres, pistolas — antiga é feita em pedra e a montra cheia de espingardas chamam a atenção não só a amantes e curiosos de armas. É uma daquelas lojas centenárias da Baixa com o seu próprio charme. Conheci o espaço (por dentro) quando, num dia que procurava uma boa naifa alentejana para oferta, tomei coragem e entrei. Fui muito bem recebido e aconselhado (inclusive apalpei algumas pistolinhas) e saí de la um orgulhoso proprietário de dois óptimos canivetes: a tal oferta e um para mim!

Sempre tive curiosidade sobre esta loja. Primeiro, porque cresci a olhar o armário da sala cheio de troféus de torneios de tiros e, segundo, queria saber que tipo de pessoas vão ali comprar armas, porque não se vê quase nada lá para dentro. A loja, que já conta mais de 100 anos, está numa zona ultra movimentada, mas mesmo assim não me parecia que captasse a atenção de muita gente. Um dia decidi entrar e perguntar que arma é que vendiam mais, mas quando abro a porta deparo-​me com uma série de homens e um casal, uns já a verem uma caçadeira e outros à espera de serem atendidos. Ainda fiquei a fazer tempo olhando para as armas expostas, mas aquilo estava a labutar. Afinal não era um sítio onde heróis de acção vinham ocasionalmente comprar munições e grandes revólveres. Uns homens entraram e outros saíram e eu discretamente pedi um cartão e fui-​me embora, parecia que estava a perturbar o natural funcionamento da loja, que para meu espanto (ou desilusão) era «normal».