Há Café no Alfarrabista

Ia a subir a Rua da Madalena e reparei no café de porta aberta, onde senhoras já de idade lanchavam. Pensei «olha aqui um café e nunca tinha dado por ele». Continuei a subir e na montra seguinte vi pessoas sentadas a tomar café no que parecia ser uma biblioteca. Aí parei e olhei por entre o gradeado a tentar perceber como se entrava. Voltei atrás e só então li o nome do tal café: Há Café no Alfarrabista! Ora aí está tudo explicado. Entrei e meti conversa com o senhor do balcão até ir para a sala. O ambiente era aconchegado pela parede de livros e o café sabia mesmo bem com aquelas histórias ali mesmo à mão, mesmo as que vêm só de ler as lombadas. Só senti falta de uma velha poltrona de veludo, mas percebo que isso fizesse com que os clientes não saíssem mais dali.

Faltam alfarrabistas deste lado de Lisboa. Este veio a calhar… Se aos livros juntar-​mos um café, então faltam alfarrabistas por toda a cidade… Não há gente nova a dedicar-​se ao ramo e os mais velhos nada fazem para modernizar os seus espaços. Este está bem pensado. Procuras um livro? Aproveitas e tomas um café. Queres beber um café? Aproveitas e vês se há por aqui algum livro que te interesse. Um situação em que saímos sempre a ganhar hein?
Eu vim aqui parar a primeira vez que levei a minha 50D a passear… Farto de andar, cansado de tanto clicar, sentar só por si já soube bem. O café soube melhor e o sumo de laranja espremido no momento então, deu forças para mais uma caminhada.
«O sexo na ficção científica da década de 70» foi a compra improvável que lá fiz…

O nome do lugar não deixa espaço para dúvidas. É exactamente o que diz ser — um alfarrabista com serviço de café. Ao entrar parecia que tinha acabado de chegar a um café de bairro. Um grupo de senhoras tomava o seu lanche de final de tarde, e entre os queixumes próprios da velhice e a bonomia das faces enrugadas, lá pedi a minha bica. Na sala dos livros encontrei uma vasta selecção de literatura portuguesa, correndo várias épocas e estilos, desde poesia até à literatura política do pós-​25 de Abril. No entanto, aqui há uma vasta variedade de temas, livros para todos os gostos e objectivos, basta perguntar. O ambiente é tranquilo e ideal para a leitura, ainda que o conforto das cadeiras (ou a falta dele) me tenha limitado a duração da estadia. Quanto ao serviço de café, o que mais salta à vista é o prato do dia a 4 €. O que se poupa na refeição pode-​se juntar depois para comprar livros, o que pode ser uma situação win-​win para quem passa frequentemente pela Rua da Madalena.