Mercearia Pérola do Arsenal

A Pérola do Arsenal continua a atrair muita gente, além dos inúmeros clients acumulados ao longo de décadas de bem server. Numa rua onde o comércio do bacalhau está bem enraízado na história de Lisboa, é fundamental manter a tradição do que é bom. A farinha de milho, a mandioca ou o côco, que sobressaem nas primeiras filas das bancadas, continuam a ser, para quem é apreciador da cozinha tropical, um dos principais atractivos para uma visita à Pérola

No tempo em que a Rua do Arsenal estava enfeitada de tripas penduradas às portas das mercearias, eu não gostava muito de passar por lá. O cheiro das tripas e do bacalhau não é propriamente atractivo para as crianças, mas a visita às mercearias era obrigatória, toda a gente comprava pelo menos o bacalhau ali, especialmente na Pérola do Arsenal. Cheguei a ir lá comprar atum sangacho seco com a minha mãe porque estávamos curiosas sobre como saberia aquela coisa com aspecto pouco atractivo (a minha mãe é de Angola, leiga nestas coisas de bacalhaus e afins). Hoje as tripas desapareceram, mas a Pérola continua a ser um dos locais que dá cheiro à rua.
Há uns anos atrás e a meu pedido, o senhor Darcílio deu-​me umas caixas de madeira, onde vêm vinhos caros, para eu fazer uma estante. Ainda cá está em casa, a relembrar-​me da Pérola do Arsenal.

Lembro-​me de ir lá com os meus pais comprar o bacalhau para o Natal. Não vou portanto dizer há quantos anos isso foi. Mas foi há muitos. Ainda hoje as filas chegam a passar da porta desta antiga mercearia da Rua do Arsenal. Pessoas no passeio esperam pela vez de ser atendidas e levarem «o fiel amigo» para as suas mesas, para as suas festas. Consoada sem bacalhau não é consoada. E porque este é o melhor bacalhau de Lisboa, ninguém se importa de esperar. Horas, às vezes. Mas vale bem a pena. Enquanto espera pode sempre escolher um bom vinho português, azeite do melhor ou, um ou outro doce tradicional para «adoçar» a sua mesa.